quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A história de uma depressão

Dani era uma menina esperta, não dava trabalho pros seus pais, criança alto astral! Um belo dia ela chegou na cozinha de casa e encontrou sua mãe sentada no chão, aos prantos, aparentemente sem motivo. Naquele momento Dani, que tinha apenas 8 anos, tirou não se sabe de onde uma maturidade incrível pra uma criança da sua idade. Abraçou a mãe e a consolou. E aquele foi o primeiro episódio onde os papéis se inverteram. A menina sabia que a pessoa que mais podia confortá-la e passar-lhe segurança estava precisando muito mais dela. Sabia que teria que ser independente pra algumas coisas e não levar mais problema pra pessoa que ela mais amava. Tão novo e meio incompreendido pra época, a mãe da Dani foi diagnosticada com depressão e a partir dali começou a se tratar. Entre idas e vindas, mudanças de tratamentos, altos e baixos, esta mãe que carregava mil culpas (não se sabe ao certo do que) achou que não valia mais a pena viver. Inclusive, seria a solução do fardo que ela, em seu pensamento, estava sendo para suas filhas. Em seu estado mais no fundo do poço tentou tirar a própria vida uma vez...duas, três, quatro... Dani, que já havia se tornado uma mulher, se encontrava confusa, sem saber o que fazer e com um sentimento de impotência absurdo. Sentia-se carente e o colo para o qual ela poderia correr era justamente aquele que ela tinha que ajudar. Tentava se distrair com seus amigos e quem a via nem dizia que aquela pessoa tão pra cima tinha uma responsabilidade tão grande. As pessoas mais próximas não sabiam da doença, de repente até por subestimar o problema, ela não tocava no assunto. Ou mesmo porque queria fugir e não ficar batendo naquela tecla. Ela simplesmente não sabia mais o que fazer e falar só a fazia lembrar que o problema existia. Percebendo que precisava de ajuda, começou a desabafar, resumir um pouco de sua história e percebeu que todos tinham uma parecida para contar sobre um vizinho, parente ou conhecido.
Às vezes parecia que a normalidade tinha batido na sua porta, mas logo depois vinha a recaída e Dani ia cada vez mais perdendo as esperanças. Até que, quando nada pior era possível de acontecer, sua mãe entrou em um estado de surto, delírio, mania de perseguição, deixando-a até contra os seres que ela mais amava no mundo, que eram suas filhas. Não tinha jeito, nem opção. Sim, internar era preciso. A necessidade de um acompanhamento 24 horas por dia era nítida. Apesar de se sentir egoísta, Dani sabia que não tinha como parar sua vida. O que poderia fazer? Pedir demissão? E viver do que? Todo o processo do surto à internação, que já não são fáceis por si, ainda ocorreram no fim de semana do aniversário de Dani! Não houve parabéns, não teve abraço. Teve emergência psiquiátrica e confissão de tentativa de enfiar uma faca no peito. Dani teve que recorrer ao mesmo lugar de quando tinha 8 anos e retirar novamente aquela maturidade inexplicável. Aquilo era só o começo, pois dali viriam as visitas, conversas com médicos, decisões sobre o que fazer e etc, etc, etc. A mãe continua internada. Já Dani, com ombros pesados, sentindo-se mais impotente, carente e cansada, física e psicologicamente. Toda noite desaba em lágrimas antes de deitar, reza bastante e pede saúde, paz, força e muita sabedoria. É difícil lutar, mas ela não pode se entregar! A outra parte com certeza está precisando mais de ajuda do que ela.

E que fique bem claro que qualquer semelhança entre a história de Dani e a minha, infelizmente, não é mera coincidência.



[Imagem: Reprodução]